Cerca de 3% da população brasileira possui psoríase, doença inflamatória crônica da pele que não tem cura. Mas o que mais chama a atenção não é a quantidade de pessoas, mas a rejeição que essas pessoas sofrem. A psoríase se manifesta principalmente como lesões avermelhadas recobertas por escamas esbranquiçadas, cujo aspecto faz com que os portadores sejam vítimas de preconceito. Segundo pesquisa do Ibope divulgada no mês passado, 83% dos 602 entrevistados não namorariam nem teriam relação sexual com quem tem psoríase, 67% não levariam os fi lhos em pediatras com a doença, e 63% não contratariam uma pessoa com o problema para cargo de gerência.
“O aspecto da lesão é de doença contagiosa e muitas vezes ela pode ficar muito exposta, o que faz com que as outras pessoas sintam repulsa. A psoríase, porém, não é contagiosa e os portadores podem ser tocados, abraçados e beijados sem problemas”, explica Claudia Maia, diretora de ações institucionais da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Ela diz que muitos pacientes ficam tão deprimidos que não procuram ajuda. “E o estresse pode disparar a doença em pessoas com predisposição genética”, completa ela.
A aposentada Irma Ecker, de 60 anos, tem psoríase desde os 11 anos e passou boa parte da vida usando calças e camisas compridas para esconder as lesões. “Uma vez eu sentei num ônibus e as pessoas se levantaram para não ficar ao meu lado. Também fui impedida de entrar na piscina de um clube. Quando fui ter meu filho, a enfermeira perguntou ao médico se eu poderia deitar na cama do hospital”, conta Irma, que faz parte da Associação Nacional dos Portadores de Psoríase, em Porto Alegre (RS).
A doença pode afetar unhas,cotovelos, joelhos, couro cabeludo, umbigo e a região lombosacra, que interliga costas e bacia. Mais raramente, ela aparece como artrite psoriática, uma forma de inflamação nas cartilagens e articulações, causando dor e dificuldade nos movimentos. O tratamento pode ser feito com pomada, loção, xampu ou gel nos casos mais leves, e com sessões de fototerapia e medicamentos orais ou injetáveis nos mais graves. “Diferentemente de outras doenças de pele, o sol é ótimo para o tratamento da psoríase. Por isso, quem tem deveria frequentar mais praias e piscinas, o que não acontece em função do preconceito”, explica Ricardo Romiti, coordenador do Ambulatório de Psoríase do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Por Guilherme Bryan
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